sábado, 11 de maio de 2024

Do ursinho de pelúcia...ao telefone celular

Dicas: 7 benefícios de se desconectar das telas - Criança e Consumo

Quando ouvimos a frase de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Deixai vir a Mim estas criancinhas”, vemos expresso o singular amor por elas durante sua vida mortal. Por essa razão, o Papa São Pio X, em 8 de agosto de 1910, estabeleceu, pelo Decreto “Quam Singulari“, que elas poderiam ser admitidas à Primeira Comunhão a partir dos sete anos de idade.

O evangelista São Marcos (10, 13-14) transmite a complacência de Jesus para com as mães que levavam seus filhos para que Ele impusesse as mãos, os abençoasse e os abraçasse. Mas os seus discípulos, contaminados com a mentalidade ambientalista da época, os afastavam. Diante disso, Jesus “zangou-se”, corrigindo a atitude errada com palavras severas: “não as impeçais, porque o Reino dos Céus é para aqueles que se lhes assemelham”.

Vemos essa inocência das crianças ainda hoje no convívio com elas: sua alegria e imaginação, sua felicidade de vida. Infelizmente, este decadente mundo moderno vem esmagando o maravilhoso que elas admiram.

Ao despertarem para o uso da razão, as crianças se deparam com uma coisa ou outra que as deixa extasiadas, e acrescentam aos objetos algo que não têm. Elas são introduzidas, fascinadas, em um mundo de maravilhas que, infelizmente, está deixando de existir. Seja uma girafa com seu pescoço alto, um beija-flor em seu voo elegante e ágil, uma simples formiga carregando uma folha, várias vezes maior que ela, ou uma borboleta com cores especiais; somente a criança – nos dias paganizados em que vivemos – mantém o seu encantamento indo além do concreto-concreto.

O fato é que as crianças têm uma capacidade imaginativa diante do entretenimento. Em sua plasticidade mental, por exemplo, quando brincam com um bichinho de pelúcia, transforma-o em uma brincadeira simbólica, chegando a torná-lo seu amigo. Se ele representa um animalzinho, digamos um ursinho, elas cuidam dele, alimentam-no, conversam e brincam com ele. Esse comportamento infantil faz com que desenvolvam diversas habilidades, inclusive a expressão verbal, pois, ao falarem com eles em voz alta, elas se escutam, aperfeiçoando sua linguagem e fala, evoluindo da compreensão das palavras para a própria comunicação, além de relaxá-las e regular seu estado emocional; sem deixar de considerar o desenvolvimento da sua criatividade e outros benefícios decorrentes dessa dinâmica.

Na fase de bebê, em que a figura da mãe marca presença com alimento, proteção, até mesmo com o calor do corpo, os bichinhos de pelúcia constituem uma forma de prazer e segurança, inclusive ajudando-os a dormir sozinhos.

Geralmente, os bebês começam a procurar esses objetos de apego por volta dos 9 meses de idade, desempenhando uma importante função psicológica, uma relação que abandonam entre os 4 e os 6 anos, quando entram na fase da sua autonomia, e a capacidade de socializar com outras crianças, tornando-se independentes. Gradualmente, elas se esquecem deles, mas os guardam em algum lugar do quarto.

Quando brincam, se as observarmos, compreenderemos o seu mundo interior – tão indecifrável – já que consideram os ursinhos companheiros de brincadeira, amigos inseparáveis ​​e até lhes dão nomes. Fenômeno qualificado, na psicologia evolucionista, como apego transicional, mas que cumpre uma função importante para o bebê ou criança, transmitindo segurança, proteção, companhia, fonte de prazer e forma de explorar o mundo ao seu redor.

Ao longo do último século, ocorreu uma revolução tecnológica, cada vez mais acelerada, que substituiu o ursinho de pelúcia, e pior ainda… as palavras, sorrisos e abraços, das crianças.

Os adultos têm cada vez menos tempo para se dedicarem aos seus filhos. Cuidando das suas coisas, optam por dar-lhes um aparelho para brincar ou, no caso dos mais velhos, deixá-los livremente em frente a uma tela, usando a tecnologia como “chupeta” emocional…

Opinião das Instituições de saúde

Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica da França, as crianças de 2 anos de idade são expostas a telas por cerca de 3 horas por dia, enquanto as de 8 anos ficam diante das telas por quase 5 horas e os adolescentes por mais de 7 horas – o equivalente a um ano antes dos 7 anos de idade.

Com isso, elas perdem uma das coisas mais importantes: o vínculo afetivo, que influencia muitos aspectos da vida.

Assim, a Organização Mundial da Saúde recomendou que as crianças não sejam expostas a telas até os dois anos de idade, e que passem no máximo uma hora na frente delas entre os três e os quatro anos. Os especialistas esclareceram que “quanto menos tempo, melhor”.

A Academia Americana de Pediatria recomenda que nenhum dispositivo eletrônico seja usado antes dos 18 meses; entre 18 e 24 meses, se o conteúdo for adequado à idade, desde que acompanhado por um adulto; entre 2 e 5 anos, no máximo uma hora por dia, supervisionado por um adulto. A partir dos 6 anos, o tempo de exposição deve ser limitado, com conteúdos apropriados que não afetem o sono, a sociabilidade e a atividade física.

O motivo é simples: as telas têm um duplo efeito negativo, tanto pelo conteúdo que veem quanto pelas atividades que deixam de fazer para passar tempo com elas. Não brincam, não correm, não desenvolvem a imaginação, não interagem!

A relação entre o uso da tela e a saúde mental é uma das principais preocupações, não só pelo impacto que podem ter no desenvolvimento cognitivo, mas também por alterar a forma como adultos e crianças se relacionam. É fundamental que as crianças sejam capazes de olhar um rosto, interpretar uma emoção ao ver os gestos do interlocutor, principalmente da própria mãe. A criança é uma pessoa que deve ser ouvida e merece ser cuidada; ela precisa de contato social e comunicação para desenvolver as habilidades interpessoais, especialmente durante os primeiros anos. A idade pré-escolar é a fase em que o cérebro evolui mais rapidamente e as telas acabam por ter impacto no desenvolvimento neurológico, com efeitos negativos nas capacidades linguísticas, de leitura, emocionais, sociais e até motoras.

Se apenas oferecermos distração digital…, estaremos dando “junk food mental” para bebês e crianças pequenas. Quando as colocamos diante de uma tela, privamos essas crianças de experiências valiosas: expressões faciais, entonação vocal e linguagem corporal nas interações com seus pais.

Tudo isso, aproveitando a flexibilidade neuronal das crianças, não só é encantador, mas também auxilia no correto aprendizado e desenvolvimento de habilidades da criança. Caso contrário, o potencial dos seus primeiros anos será desperdiçado.

Quem tem problemas com o uso das telas são os pais, que os impede de interagir com os filhos. Muitos estão presos aos celulares e não conversam o suficiente com os filhos.

É crucial restabelecer as rotinas familiares, promover passeios em contato com a natureza e se desconectar das telas para se conectar com as crianças. Não nos iludamos, os pequenos aprendem mais por meio de experiências reais do que com uma tela.

Por Pe. Fernando Gioia, EP

 

domingo, 5 de maio de 2024

Quem tem a última palavra?

O santo sacrifício da Missa

 Enquanto houver neste vale de lágrimas um sacerdote que consagre o pão e o vinho, e fiéis que adorem a Jesus na Hóstia Santa, tudo podemos esperar!

Em nossos dias, os mais diversos e graves acontecimentos se sucedem de forma contundente, sem que as pessoas tenham tempo de digeri-los. Alguns são inesperados, outros tragicamente previsíveis. O desânimo, o desencanto, quando não, o desinteresse, costuma ser a resposta que os homens geralmente dão a esses eventos.

Outrora, a tradição era valorizada porque servia de guia para abrir caminhos para o futuro. No alvorecer do século XX, se apostou com frenesi na engenhosidade humana e nos progressos da técnica; acreditava-se que eles trariam a solução dos problemas. Mas descobriu-se que o remédio tão esperado não só não curou os males, mas, em grande medida, os multiplicou. Sobre isto, Bento XVI sabiamente escreveu: “A ambiguidade do progresso se faz evidente. Sem dúvida oferece novas possibilidades para o bem, mas também abre possibilidades malignas esmagadoras que não existiam antes. Todos nós testemunhamos como o progresso, em mãos equivocadas, pode chegar a ser e se converter em um aterrador progresso no mal. Se o progresso técnico não corresponde ao progresso correspondente na formação ética do homem, no crescimento interno do homem, então não é um progresso, mas uma ameaça ao homem e ao mundo.” (Encíclica Spe salvi, n. 22).

Hoje, para muitos, vale apenas o presente como ele é, de forma crua, sem esperança de mudança. Trata-se de “sobreviver”, sem um pensamento coerente, no marco de uma “religião light” que não comporte grandes compromissos. Se diria que chegou a hora de renunciar às ideias, à moral, às cerimônias, para dar lugar ao relativismo e à espontaneidade.

Este diagnóstico pode parecer demasiado pessimista, e a verdade é que há algo disso. Para que a análise crítica possa ser criteriosa, seria necessário considerar outro fato muito importante da situação: a resposta de Deus. Uma vez que o Criador existe – e quanto concordamos com isso – como podemos não contar com Ele?

O Santíssimo, Rocha Segura

Agora, numa sociedade tão arbitrária e mutável como a nossa, há algo seguro que permanece: o Santíssimo Sacramento. Tem sido assim desde os tempos apostólicos, assim será até o fim do mundo. A Igreja imortal, sobre a qual não prevalecem as portas do Inferno, vive da Eucaristia, esse alimento substancial que dá vida divina e é fonte constante de graças.

Assim, enquanto houver neste vale de lágrimas um sacerdote que consagre o pão e o vinho, e fiéis que adorem a Jesus na Hóstia Santa, tudo pode ser esperado. Sim, tudo: as regenerações mais extraordinárias e os benefícios menos imagináveis ​​pelos cálculos humanos.

Ao considerar a realidade contemporânea em profundidade, esta deve ser vista como uma moeda de duas faces. Um lado é essa crise patente e abrangente que apontamos. O outro é aquele que se esconde nos sacrários, nas almas eucarísticas, nos “tempos” providenciais de Deus que costumam demorar, mas acabam chegando (Deus está fora do tempo, daí as aspas).

Duas pequenas notícias recentes falam-nos dessa “realidade oculta”, digamos assim; foram publicadas no número 266 da revista Arautos do Evangelho de fevereiro passado.

Uma juventude especial

“Apesar da forte secularização, o número de devotos da Adoração Noturna na cidade de Barcelona não para de crescer. Em 2023, foram admitidos setenta novos membros, muitos deles jovens, durante a cerimônia anual realizada na Paróquia Santa Teresinha. Atualmente são mais de 350 fiéis inscritos para adorar o Santíssimo Sacramento na cidade, abrindo mão de algumas horas de sono para cobrir os horários da vigília que se prolonga das 22h às 6h, todas as noites do ano. Soma-se ao aumento de adoradores o aumento de capelas de Adoração Perpétua na região, que nos últimos anos passou de uma para dez”.

E agora, a outra notícia: “Uma pesquisa realizada pelo jornal católico ‘La Croix’ entre seminaristas franceses revelou que a concepção do ministério sacerdotal destes futuros clérigos difere muito dos padrões comumente aplicados à juventude contemporânea. Dos 434 seminaristas que participaram na pesquisa, 72% provêm de famílias que frequentam a missa dominical e 61% consideram que a família é o principal núcleo para a transmissão da Fé. Na verdade, para 36% deles a vocação foi delineada antes dos dez anos, e a figura dos pais foi importante na aceitação do chamado divino em 62% dos casos (…)”. Quanto ao futuro sacerdócio, 73% dos seminaristas pretendem usar batina regularmente, 48% pretendem vesti-la de forma habitual e 70% querem fazer da celebração dos Sagrados Mistérios e Sacramentos o centro de sua vida pastoral (…)”.

Estas informações não são desprovidas de interesse nem se tratam de casos isolados, são fatos sintomáticos. O mal é dinâmico e astuto, mas não tem a última palavra. O bem, por outro lado, é difuso e conta com a ajuda da onipotente graça divina. Quem está em vantagem? É enorme a fecundidade de benefícios que residem, por exemplo, nos seminaristas franceses ou nos adoradores catalães que perseveram em seus compromissos com o Senhor; são faíscas que podem desencadear um incêndio. Mas isso é dizer pouco.

Porque, em última análise, não será apenas pelo mérito de alguns clérigos ou leigos deste ou daquele país que a salvação chegará até nós… embora Deus utilize as causas segundas como instrumentos providenciais; haverá instrumentos, mas a salvação nos chegará de uma fonte sobrenatural: os Corações de Jesus e de Maria que pulsam em uníssono. “Por fim, o meu Imaculado Coração Triunfará”, disse Nossa Senhora em Fátima.

Deste triunfo vindouro são precursores os apóstolos eucarísticos que testemunham a sua Fé sem respeito humano, orando e trabalhando para alterar o curso da história, convencidos do ensinamento de São Paulo: “Tudo posso naquele que me conforta” ( Fl 4, 13). Sim, tudo.

Por Padre Rafael Ibarguren EP – Conselheiro de Honra da Federação Mundial das Obras Eucarísticas da Igreja.

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho.

 

quarta-feira, 10 de abril de 2024

Mulher nascida de barriga de aluguel apoia proibição total

Diante do desrespeito à vida, tratada como se fosse uma mercadoria, segue um artigo que expõe o outro lado da prática chamada "barriga de aluguel", a dos sentimentos de quem nasce nestas condições.

 Olivia Maurel ??

Nascida de barriga de aluguel nos EUA em 1991, Olivia Maurel é uma das principais defensoras da abolição do “aluguel de útero”, prática que o papa Francisco chamou de “deplorável”.

Enquanto Paris Hilton, Kim Kardashian e outras celebridades ganham manchetes quando mães de aluguel dão à luz seus filhos, é muito raro ouvir das próprias mães de aluguel não identificadas ou dos filhos nascidos de barriga de aluguel sobre como isso os afetou.

Para Maurel, nascer de barriga de aluguel gerou traumas de abandono, problemas de identidade e diversas tentativas de suicídio.

“Eu fui um produto da barriga de aluguel e sempre senti isso dentro de mim – um bebê feito sob encomenda, uma mercadoria por dinheiro”, disse ela.

“Estamos habituados a ter nas notícias muitas histórias bonitas de crianças nascidas através de barrigas de aluguel… e não estamos habituados a ouvir os aspectos negativos da barriga de aluguel e como ela é totalmente antiética”, disse Maurel à CNA, agência em inglês do grupo EWTN, a que pertence ACI Digital na última sexta-feira (5).

Embora a barriga de aluguel seja proibida na maioria dos países da União Europeia, a prática é permitida na maioria dos Estados dos EUA. No Brasil, é permitida a chamada “barriga solidária”, sem remuneração financeira.

Preocupações éticas

Denunciantes levantaram preocupações depois de “mães de aluguel” morrerem devido a complicações de uma gravidez de aluguel ou sofrerem traumas decorrentes da experiência.

terça-feira, 2 de abril de 2024

Beata Ana Catarina Emmerick narra encontro de Jesus ressuscitado com a Virgem Maria

 

Em muitas passagens dos Evangelhos fala-se do encontro que o Ressuscitado teve primeiro com as mulheres que o seguiram e depois, em diversos momentos, com os apóstolos. No entanto, não diz nada sobre o que aconteceu quando o Redentor encontrou sua Mãe. A beata mística Ana Catarina Emmerick (1774-1824) teve uma visão desses momentos.

O site santoscorazons.org, gerido pelas Servas dos Corações Transpassados ​​de Jesus e Maria, narra que a beata viu a Virgem Maria rezar em seu interior com um desejo ardente de encontrar seu Filho.

Nesse momento, um anjo apareceu e disse a Maria para ir até a pequena porta de Nicodemos, porque o Senhor "estava perto". A Mãe de Deus se encheu de alegria e saiu apressada sem que as outras mulheres percebessem.

No caminho, Maria parou e olhou para cima. A alma de Cristo desceu até Ela acompanhada de muitas almas e patriarcas. O Senhor lhes disse: “Eis aqui Maria, eis aqui a minha Mãe”. A vidente conta que pareceu que Jesus deu um beijo em sua mãe e depois desapareceu.

Depois, o Cristo glorioso e ressuscitado se apresentou a Maria no Calvário. As almas dos patriarcas fizeram reverência diante da Virgem e o Redentor lhe mostrou as suas chagas. A Virgem tentou se prostrar para beijar os pés de seu Filho, mas Ele a levantou e desapareceu.

Maria ficou muito feliz e se ajoelhou para beijar o lugar onde seu amado Jesus havia aparecido.

A beata Emmerick narra que a Santíssima Virgem voltou confortada para onde as mulheres preparavam os unguentos e perfumes. Sem lhes dizer nada, começou a consolá-las e a fortalecê-las na fé.

As revelações privadas, como são as visões da beata Emmerick, não precisam ser aceitas pelos católicos.

O Catecismo da Igreja Católica diz, no número 67: “No decurso dos séculos tem havido revelações ditas 'privadas', algumas das quais foram reconhecidas pela autoridade da Igreja. Todavia, não pertencem ao depósito da fé. O seu papel não é 'aperfeiçoar' ou 'completar' a Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a vivê-la mais plenamente, numa determinada época da história. Guiado pelo Magistério da Igreja, o sentir dos fiéis sabe discernir e guardar o que nestas revelações constitui um apelo autêntico de Cristo ou dos seus santos à Igreja”.

Abel Camasca

segunda-feira, 25 de março de 2024

O verdadeiro Messias e seu glorioso triunfo


O Domingo de Ramos é o pórtico da Semana Santa, ao longo da qual contemplamos o cerne da vida e missão de Nosso Senhor Jesus Cristo e, portanto, o ponto central de nossa Fé Católica Apostólica Romana. É o Salvador, Ele mesmo, quem decide iniciar sua Paixão, entrando em Jerusalém montado num jumento, assim como foi Ele quem escolheu a carne humana para realizar a Redenção e a Gruta para nascer.

Algumas semanas antes de Se dirigir à Cidade Santa, Jesus ressuscitara Lázaro, falecido havia quatro dias. Bem podemos imaginar o espanto dos circunstantes quando Ele mandou abrir o túmulo, pois àquelas alturas o corpo já deveria estar em decomposição. A despeito do constrangimento geral, removeram a lápide e, à ordem de Nosso Senhor — “Lázaro, vem para fora!” (Jo 11,43) —, este não só ressuscitou como subiu a escada de acesso à saída do sepulcro, “tendo os pés e as mãos ligados com faixas, e o rosto coberto por um sudário” (Jo 11,44).

O fato alcançou grande repercussão em Israel, causando tal estupor que a opinião pública se tomou de sofreguidão por conhecer aquele extraordinário taumaturgo. Ora, como a Páscoa estava próxima, os judeus que subiam ao Templo para se purificar procuravam o Divino Mestre e se perguntavam uns aos outros: “Que vos parece? Achais que Ele não virá à festa?” (Jo 11,56). Ao saber que Ele vinha chegando, a multidão saiu-Lhe ao encontro com ramos de palmas nas mãos, aclamando-O, “porque tinha ouvido que Jesus fizera aquele milagre” (Jo 12,18).

Cena simples na aparência, grandiosa na essência

Nosso desejo seria de que esta entrada se verificasse de modo apoteótico. Nosso Senhor mereceria desfilar num animal imponente, um elefante ou um belo corcel branco, semelhante àquele sobre o qual aparece figurado no Apocalipse, com uma espada entre os dentes (cf. Ap 19, 11-15). Pelo contrário, o Senhor prefere uma singela montaria, Se apresenta com suas vestes habituais, sem ostentar um manto real, e não Se faz anunciar. Nada do que acontecia estava à altura d’Ele!

Contudo, se esta cena foi simples na sua exterioridade, foi riquíssima no que diz respeito à substância, pois ali estava o próprio Deus feito Homem.

Jesus pede “um jumentinho que nunca foi montado” — pois estava reservado para Ele — e o animal não se mostra arisco, mas caminha docemente, trazendo no dorso o Soberano do universo e nosso Redentor, em função de quem todas as coisas foram criadas. Quanto simbolismo há por detrás disso! Como gostaríamos de ter aquele burrico empalhado e conservado numa catedral!

À passagem de Nosso Senhor, o povo exclama maravilhado: “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito seja o Reino que vem, o Reino de nosso pai Davi! Hosana no mais alto dos Céus!”. Conforme a narração de São Lucas, em certo momento os fariseus interpelaram Jesus para exigir que reprimisse as ovações, e Ele lhes respondeu: “Digo-vos: se estes se calarem, clamarão as pedras!” (Lc 19,40). Sim, não só as pedras, como também as plantas, os insetos, as aves do céu, enfim, todos os animais, se congregariam em torno d’Ele naquela ocasião e saltariam de alegria cantando-Lhe as glórias, não os houvesse Ele refreado por um milagre.

A Cruz, sinal de contradição

É com vistas a este holocausto que Jesus entra em Jerusalém, a fim de nos livrar da condenação eterna, abrir as portas do Céu e comprar a nossa ressurreição. Por isso, em sua divina e infalível perfeição, a Igreja pôs a Cruz no centro das considerações do Domingo de Ramos, bem como de toda a Semana Santa.

A Cruz, sinal de contradição! Por que o Redentor escolheu este tipo de morte? Era de todos o mais ignominioso, reservado aos piores bandidos. O condenado à crucifixão era alvo do desprezo geral. A caminho do suplício, as pessoas debochavam e lhe lançavam cusparadas, e, quando os algozes o levantavam no madeiro, era costume aproximarem-se para ridicularizá-lo. Este gesto contribuía para aumentar a vexação e, por conseguinte, avivava no povo o medo de praticar algum crime. Enfim, o que havia de mais execrável Nosso Senhor quis para Si.

Crucificado e triunfante!

Em sua infinita sabedoria, o Verbo onipotente promoveu que a cruz fosse um símbolo de horror, rejeição e repugnância; e, depois, ao Se encarnar, abraçou-a para nos redimir e cumprir a vontade do Pai. Desde então, a Cruz tornou-se a maior honra, o maior triunfo, a maior glória; no dizer de São Leão Magno[1], transformou-se em cetro de poder, troféu de vitória, signo de salvação. Ela passou a ser o cimo das torres das igrejas, o centro das condecorações, o ponto mais alto das coroas e o sinal que distingue um filho de Deus de um filho das trevas.

Quando Nosso Senhor estava já exangue na Cruz, chagado da cabeça aos pés, prestes a render seu espírito, os sinedritas zombavam d’Ele, dizendo: “A outros salvou, a Si mesmo não pode salvar! O Messias, o Rei de Israel… que desça agora da Cruz, para que vejamos e acreditemos!” Com muita propriedade São Bernardo de Claraval comenta este trecho: “Ó língua envenenada, palavra de malícia, expressão perversa! […] Pois, que coerência há em ter de descer, se é Rei de Israel? Não é mais lógico que suba? […] Ou por outra, por ser Rei de Israel, que não abandone o título do reino, não deponha o cetro aquele Senhor cujo império está sobre seus ombros”.[2]

E foi o que aconteceu. Ao terceiro dia Ele ressuscitou, e no quadragésimo ascendeu ao seu Reino Celeste, onde está sentado à direita do Pai, dominando o mundo inteiro. Rei absoluto, Ele não desceu, mas subiu!

A Cruz se transforma em glória na eternidade

A fim de aproveitarmos bem as graças da Semana Santa que hoje se inicia, é necessário que nos compenetremos de que, muito mais que com ramos de palma nas mãos devemos acolher Nosso Senhor com determinações interiores e propósitos, e com a firme convicção de que fomos criados para servir o Homem-Deus, cada qual no seu estado de vida, seja constituindo família, seja como religioso.

Jesus me convoca a segui-Lo! Peçamos a graça de compreender que é através da cruz que chegamos à luz — “Per crucem ad lucem!” — e não há outro meio de conquistar a alegria sem fim. Que a cruz seja a companheira inseparável de cada um de nós até o momento de ingressarmos na visão beatífica, e continue junto a nós por toda a eternidade, como magnífica auréola de santidade, resplendor de glória.

Extraído, com adaptações, de:

CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os Evangelhos: comentários aos Evangelhos dominicais. Città del Vaticano-São Paulo: LEV-Instituto Lumen Sapientiæ, 2014, v. 3, p. 255-267.

[1] Cf. LEÃO MAGNO. De Passione Domini. Sermo VIII, hom.46 [LIX], n.4. In: Sermons. Paris: Du Cerf, 1961, v.III, p. 59.

[2] BERNARDO DE CLARAVAL. Sermones de Tiempo. En el Santo Día de la Pascua. Sermón I, n.1-2. In: Obras Completas. Madrid: BAC, 1953, v.I, p. 497-498.